No âmbito da discussão sobre a pesquisa ação na cadeia produtiva da
pesca, nos deparamos com a questão relacionada com a, gestão
compartilhada de recursos naturais, que nos remete a discussão sobre a
relação sociedade e natureza. Projetos como: acordo de pesca na Baia
da Ilha Grande, curso de especialização em gestão compartilhada de
recursos costeiros, projeto de formação no âmbito da rede solidária da
pesca (Planseq) de gestão compartilhada de recursos naturais, não
poderão prescindir de uma reflexão epistemológica da relação sociedade
e natureza. Conceito que fundamentam a concepção de mundo, e da
própria existência humana.
A construção de uma retórica naturalista, ou artificialista, traduz em
idéias e ideais que movem os interesses dos grupos (atores sociais)
envolvidos direta e indiretamente com este território.
Indagamos aqui qual será o papel da universidade nesse colóquio? Quais
os recursos que dispõe a universidade para contribuir efetivamente com
a discussão na solução ou melhor no entendimento do conflito que movem
os diversos atores e seus interesses? Quais são os desafios e como
enfrentá-los?
A começarmos pela idéia de natureza, qualquer que seja o nome com o
qual ela se encontre, dependendo da época, um meio propício de
expressão – afigura-se como um dos maiores obstáculos que isolam o
homem do real, ao substituir a simplicidade caótica da existência pela
complicação ordenada de um mundo.
Devemos ressaltar que o ideal naturalista, longe de ter sido atacado
pelo progresso das “luzes”, nunca preponderou tanto quanto na
sensibilidade moderna, caracterizando-a desde o séc.XVIII.
“a idéia de natureza nunca foi pensada, mas somente oposta a uma certa
quantidade de fatos, atitudes e acontecimentos que ferem a
sensibilidade de alguns homens, sendo antes de tudo, expressão de um
desagrado, não de uma idéia, permitindo o deslize intelectual graças
ao qual se chega afirmar que transgride a natureza tudo que de fato se
opõe ao desejo. A função ideológica da idéia de natureza se desdobra
e se reforça aqui com uma eminente função de ordem moral : permite não
somente pensar uma metafísica, mas também, e talvez principalmente, a
culpabilidade”(Rosset,1989).
“Ninguém duvida que a eficácia do conceito de natureza e de suas
diversas imagens advenha, primeiramente, da sua própria obscuridade e
da incapacidade em que ela se encontra para se definir e
representar”(Rosset,1989).
Sendo assim, afirma Rosset, “a ideologia naturalista – é uma crença de
que alguns seres devem a realização de sua existência a um princípio
alheio ao acaso (matéria) e aos efeitos da vontade humana
(artifício)”.
Essa reflexão é um convite a uma leitura apurada da obra de Clement
Rosset. A anti-natureza. Onde o autor procura reavivar, na fronteira
entre o artifício e a natureza, o velho debate que contrapõe a
aprovação incondicional da existência à sua aceitação com reservas de
justificação: a idéia de um mundo como artifício; que sugere
essencialmente um êxtase diante do fato, opõe-se à idéia de “um mundo
como natureza”, que exige uma petição preliminar de princípios.
Como afirma Foucault,”No fundo da prática científica existe um
discurso que diz: nem tudo é verdadeiro; mas em todo lugar e a todo
momento existe uma verdade a ser dita e a ser vista, uma verdade
talvez adormecida, mas que no entanto está somente à espera de nossa
mão para ser desvelada. A nós cabe achar a boa perspectiva, o ângulo
correto, os instrumentos necessários, pois de qualquer maneira ela
está presente aqui e em todo lugar”. Mas achamos também, e de forma
tão profundamente arraigada na nossa civilização, esta idéia que
repugna à ciência e a filosofia: que a verdade, como relâmpago, não
nos espera onde temos a paciência de emboscá-la e a habilidade de
surpreendê-la, mas que tem instantes propícios, lugares privilegiados,
não só para sair da sombra como para também se produzir. (1979)
A discussão da relação sociedade e natureza permeiam a questão
ambiental, e aos modelos de desenvolvimento sustentável. No entanto
está longe de se chegar a um consenso, dividindo opiniões, escolas e
teorias sobre as idéias e ideais que sustentam a idéia de
sutentabilidade do desenvolvimento que se preconiza.
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